O Iluminado de Fachada e o Manual da Hipocrisia Cósmica

 


O Iluminado de Fachada e o Manual da Hipocrisia Cósmica








Vivemos tempos gloriosos! Nunca foi tão fácil se autoproclamar especialista em absolutamente qualquer coisa sem o menor compromisso com a realidade. Basta um pouco de convicção na voz, algumas frases rebuscadas e—claro—um público suficientemente desavisado para aplaudir. Afinal, quem precisa de coerência quando se tem um discurso bonito?

Vejamos o clássico caso do visionário que ensina como construir impérios do nada, enquanto seu “nada” sempre incluiu um belo empurrãozinho da conta bancária dos pais. Esse mesmo ser iluminado discursa sobre meritocracia como se tivesse desbravado a selva da vida com as próprias mãos, enquanto a única selva que conhece é a do condomínio fechado onde passou a infância. Mas não se preocupe, ele jura que entende as dores do mundo!

E há também os sábios da nova era, aqueles que falam com convicção sobre a precessão dos equinócios, alinhamento cósmico e a ascensão da consciência planetária... sem ao menos entender que o zodíaco tropical e a precessão são realidades paralelas que não se cruzam. Mas, ei, o que importa é a crença, não a verdade, certo? Afinal, a verdade dá trabalho, exige sacrifício e não é sedutora e não permite manipulação, pode até colocar em xeque a infalível narrativa de quem nunca acessou a própria essência, mas insiste em decretar a chegada da Era de Aquário com base em seus interesses próprios.

E o que dizer daqueles que se autodenominam porta-vozes da consciência universal, mas não conseguem enxergar além das próprias limitações? Falam sobre leis cósmicas enquanto tropeçam nas leis da lógica. Discorrem sobre prosperidade espiritual, mas só reconhecem riqueza se vier acompanhada de um extrato bancário robusto. Confundem conhecimento com sabedoria, racionalidade com consciência, e assim seguem, acreditando que o mapa da vida se resume ao que já está desenhado em sua limitada visão de mundo.

E assim, a humanidade segue carente de verdade e transbordando de discursos vazios. Enquanto alguns se iludem com promessas de iluminação instantânea, outros assistem, entre o riso e a perplexidade, ao espetáculo tragicômico da hipocrisia moderna.

No fim, resta apenas uma pergunta: será que algum dia perceberão que estar consciente não é apenas falar bonito sobre o universo, mas sim se permitir ser verdadeiramente parte dele?



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